domingo, 13 de outubro de 2013

SONHOS E SONOS


Por Edson Vidigal

O imenso vazio do escuro, que nos faz imaginar muriçocas em nossos ouvidos, saltos gelados de jias em nossas pernas, e um infinito "infinito" de sonhos e possibilidades.

Dura escolha entre picadas silenciosas em meio ao sono ou zumbidos intermináveis que não nos deixam dormir.

Dura sensação de não se ter escolhas.

Meu reino por uma redoma, digna do Volpone, em ambiente estéril milimetricamente controlado, livre de micro-organismos, cheiros e gostos. Um mundo insosso sem picadas e sem zumbidos. Sem jias nas pernas.

Um mundo sem o “muriçôco-mor” e seu café filosófico às duas da matina.

O imenso vazio de um mundo sem sal, sem picadas e sem zumbidos.

O imenso vazio do sono que vem e que não consegue sonhar.

DO CALOR VEM O VENTO (Em homenagem ao louco poeta)


Por Edson Vidigal

Há hora pra tudo.

Pra suar, pra ventar, pra nadar, pra orar.

Há horas que não passam em meio ao calor que parece querer nos cozinhar em “banho maria”. E a fraqueza nos toma de assalto tentando fazer com que desistamos de tentar mudar o que nos incomoda, e tentemos adormecer e descansar no mormaço do dia.
Adormecer entre as galinhas, os patos, as cabritas e o jumentos que insistem em lembrar-nos de suas presenças.

Lembrar-nos de sua liberdade assistida. De um viver encarcerado entre muros que por mais distantes entre si que estejam, ainda estão lá.

Lembrar-nos de que é preciso lembrar. De que é preciso. De que, mesmo que em cativeiro (principalmente em cativeiro), é preciso. Lembrar a nós e lembrar aos outros que, como nós, ainda vivem nessa calma morna assistida.

E um cacarejar ininterrupto e insistente, que clama por atenção, só cessa ao encontrar o milho por entre a areia. Bicar o chão, ciscar, fazer poeira com os pés e as esporas em busca de se calar a boca e o estômago.

E uma sinfonia de “piares” tímidos e frágeis, que avança incerta, ingênua e ignorante do que vem, ou mesmo de que algo possa vir, segue apenas sua busca (não sei de que, e tampouco ela deve saber). Sinfonia  seguida vorazmente de atentas e estressadas asas, que apressadas lhes são sombras, ditando os caminhos e descaminhos do ciscar da sobrevivência.

E novamente a calma morna, quente.

Novamente a calma se deita.

E já quando se pensa que não, lá vêm os gritos indecentes dos jumentos. Rompantes indecentes e cínicos dignos de Diógenes em seu barril.

E novamente a calma morna, quente.

Novamente a calma se deita.

Arrefece a alma, esquenta o coração. Calma morna que dá a “vontade de nem sei” do Zeca. Calma quente que há muito tempo atrás me ensinou que há hora pra tudo. Que há hora pra correr, pra andar, pra pensar, pra fazer. Pra criar e pra realizar.

Novamente aquela calma morna, quente.

Que arrefece a alma, que esquenta o coração.

Que dá vontade de nem sei.

Que há muito tempo atrás me ensinou, em um longo dia que quase não acabou, que às vezes é hora de parar... de parar...

De parar... de parar.

De parar.