sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

Por Edson Vidigal*

Lá estavam eles, como sempre, em suas máquinas de sonhos, unidos por teias sedosas de vontades e delícias. Vivendo o sonho comum, em meio ao sono de cada um.

Era assim que se podia ver aquele país distante, naquele pedaço de mim onde podíamos estar só com os outros, vivendo um eterno final.

Sonho que um dia alguém sonhou, que se torna real a cada um a cada noite.

Amando os que nos amavam, tudo era tudo e todos os inícios eram o melhor retorno.

Um sonho comum onde vontades se realizavam na forma de uma noite perfeita.

Onde a chuva lavava e relvas sopravam o canto do lindo esquecimento.

Um sonho todo azul ao som de suave flauta, terno toque que nos molhava o corpo e o gosto em algum lugar naquela imensidão cremosa.

Cada suspiro se encantava em beijo. Cada sorriso se desmanchava em flores. Tudo era um tênue limiar além da razão e do sentir. Um sonho bom.

Mas ela queria mais.

Queria seu próprio sonho. Algo que sonhara um dia, antes dos finais felizes, antes dos entardeceres em close contra a luz.

Ela queria a sua versão. A sua própria estória de amores desencontrados, de paixões desperdiçadas. De pesadelos, de faltas, de busca.

E fez daquela noite um dia ensolarado e quente. Tornou Sufocante e seco aquele úmido que encharcava os olhos. Fugiu de todo o sonhar. De toda a gente. Deixou de existir nos jardins de todos os que ousaram com ela amar.

Desistiu daquela cama macia, daquela seda gelada, daquelas plumas aladas de anjos bons. Sentiu sua própria carne, sua própria face, sua própria fome.

Levantou-se e se viu nua. Sozinha e entregue ao seu próprio azar. Apoiou os pés no chão e deu um passo. Depois outro. E aprendeu a andar em seu mundo só.

Já longe da cama, não dormia mais.

Apenas seguia seu coração partido em busca de uma falta qualquer.

Algo qualquer que valesse a pena faltar.

Algo qualquer onde encontrasse sua dor.

Algo qualquer.

E acabou por se perder em dobras e mais dobras de um imenso lençol que, longe da cama, cobria o nada. E quanto mais cavava, mais se enterrava sufocada em si mesma, nas tramas que as moiras lhe teceram um dia.

...Tempos depois, numa bela noite, ele cansou de sonhar.

Aquela foto iluminada em matizes douradas, aquele ponto de fuga de perspectiva perfeita, nada casava com a imagem que queria dela. Aquela criatura tão livre, tão solta, tão carente de novos espaços e novas cores.

Foi então que percebeu sua falta.

Acordou naquele sonho onde tudo era brando, tudo era morno. Onde tudo agradava ao toque e cada sorriso era a mais perfeita criação.

Queria vê-la. Desmamar-se de seu copo cheio, desamparar-se de sua cama limpa, perder-se em suas perdas.

Matou-se de seu sonho lindo, violentou-se de sua esperança. Morreu-se de sua beleza.Em um só fôlego, atirou-se de vez naquele negro mar.

E afogou-se inteiro em suas negras correntes, que o libertariam para todo o sempre naquele imperfeito amor.


‪#‎juntossomosmuitos‬.

* Edson José Travassos Vidigal foi candidato a deputado estadual nestas eleições pelo PTC, número 36222. É advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do Tribunal Superior Eleitoral por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.

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