sábado, 7 de setembro de 2013

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Por Edson Vidigal

O mundo lá fora se esquece de um tempo fora do tempo quando se permeiam pensamentos em busca de algo que não se sabe bem o que é. 

Perder um tempo que não se tem, tentando caber dentro de uma tela de computador, não se sabe bem pra quê.

Uma solidão compartilhada com muitos solitários é o que se chama de web. Muitos pontos isolados conectados entre si. Ilhas que se cruzam em código binário. Montanhas de bits se desmanchando em cascatas geladas que irrompem nossas cabeças e fixam nossos olhos em um vazio colorido piscante e cheio de hiperlinks.

E lá fora da janela o vento sopra e faz as folhas cantarem estórias de uma infância repleta de vida, de alegrias e de convívios. Um tempo que não volta, e prova disso é o cajueiro que, já pré-adolescente, conta com bem uns 5 anos de vida na qual desenvolveu bem sua copa frondosa, cheia, não muito comum para um ser de sua espécie, e já conta com um tronco robusto e em formato de balanço, onde Marina e Erika podem brincar, subir, pular, aprontar e sonhar. 

Cajueiros gostam de brincadeiras de meninas. Ficam fortes, frondosos, floridos, cheios de castanhas, prósperos e pulsantes de sementes de cajuzinhos. Cajuzinhos pequeninos, gorduchinhos e suculentos. Amarelos, avermelhados, e em uma textura única que dá vontade de morde-los, tais como as gotas tão lindas do Gil.

Por um instante abro o itunes para checar a conexão com o iphone e com a internet, e por instinto vou logo pensando em que tipo de música vou ouvir. Por sorte o vento me lembra logo que já está cantando, junto aos passarinhos, à Dalila com ciúmes do gato safado, a uma pedra tocando bem lá longe e ao andar de um ou outro carro que passa e que faz lembrar as ondas do mar, que com certeza estão também passando lá embaixo no fim da rua. Tudo tão tranquilo que dá medo de acabar. 

Uma tranquilidade rara, oásis em meio ao despencar da cama de cada instante diário de 10 vidas em uma, de dez anos a mil, ou de mil anos em dez. Como disse um génio temperamental amigo meu, "o dia parece que tem que durar mais vinte e quatro horas pra eu caber". 

E nesses dias se consegue parar de pesar e finalmente pensar.

Fico triste porque o cajueiro antigo, original, que deu lugar ao pré-adolescente, teve que lidar por muitos anos com brincadeiras de meninos. Tomou bolada atrás de bolada por muitas férias, pois ficava atrás do gol, e infelizmente nunca vingou. Minha avó dizia que era por causa do lugar onde ele estava plantado, que embaixo tinha muita pedra da construção e tal. Só que o cajueiro atual, pré-adolescente, está plantado no mesmíssimo lugar, atrás do gol, de frente à varanda, e está lá, firme, forte, frondoso, cheio de castanhas e flores, prestes a cajuar, à espera das meninas para que possam com ele brincar em umas próximas férias que a economia e os compromissos ajudem para que ocorram logo.

A questão é que cajueiros não gostam de brincadeiras de meninos. Mas adoram brincadeiras de meninas. Não lhes tiro a razão. Meninas são mais doces, meigas e carinhosas. Meninos parecem que tem o "diabo no couro", como diria o outro.

Fato é que o cajueiro antigo sucumbiu à convivência com os meninos, e passou dessa pra melhor a fim de que muitos anos depois pudesse servir de solo fértil para um lindo cajueiro pré-adolescente que ainda há de ajudar a contar muitas estórias. Citando novamente meu amigo génio temperamental, "a diferença da morte é que a gente não tá mais aqui, e não tem mais estória pra contar".

Não teve a mesma sorte a goiabeira, com a qual eu tanto brinquei e que simplesmente não está mais lá, e agora me dei conta que eu nem vi isso acontecer (ela deixar de existir). Assim foi com as duas mangueiras, com a laranjeira de laranja da terra (que parece que foi fruto de sementes trazidas de caxias pelo meu pai), com a pitangueira, com a caramboleira, com o limoeiro e com os dois pés de abricó (adorava os abricós, mas eles caiam como bombas no telhado e deixavam a chuva entrar em casa, pois, coitada, estava desamparada ao relento). 

Todos eles esperam o dia em que possam servir de solo fértil para novos pré-adolescentes, para que possam brincar de novo, agora com as meninas, e quem sabe depois com outros meninos. Tudo para que possamos ainda contar muitas estórias. Alí, acolá, na sala de aula, nas mesas dos botecos, nas salas de estar, nos livros, quem sabe nas campanhas, e até mesmo por aqui, no deserto do real, no lugar onde o tempo esquece de passar, onde o tempo sem tempo, fora do tempo, nos dá algum tempo pra pensar.

Ou pra contar estórias.

2 comentários:

  1. Lindo. O lugar onde o tempo para é o lugar das nossas memórias.

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  2. Pois é. Esse mesmo. Por isso a importância da casa 13, meu número de sorte.

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