E
já agora, com uma chuvinha fina na janela, um céu que não se vê o céu, uma paz
fria, seca por dentro e molhada por fora, carros passando sobre as águas das ruas
fazendo ondas ao lado do rio e um ou outro rosnado de um ônibus (auto-bus por
aqui...), chego a me sentir em casa no meu quartinho apertado e frio.
Dores
nas costas, frio nos pés, um cheiro esquisito que hoje em dia sai de todos os
colchões e travesseiros que compramos…
Dizem
que o cheiro é do produto anti-ácaro, anti-fungo, anti-alérgico, e pelo jeito
anti-sono. Não se pode dormir com isso. Afinal, serve pra quê?
Quando
se está sozinho é preciso tomar cuidado com a disciplina. Pois longe dos olhos e
das reclamações dos outros podemos fazer o que quiser. Ou deixar de fazer o que
quiser. E isso, no fim das contas, acaba nos levando a descobrir que o que não
faz mal pros outros faz mal a nós mesmos.
A
chuva fina me impele a continuar deitado. Fazendo nada. Divagando entre as
letras enquanto a bateria do computador não acaba.Os tons de amarelo velho
permeiam as paredes, as cortinas, a luz que vem do abajur, e até o diálogo lá
longe vindo de alguma televisão. E no meu pequeno quartinho, tudo está a mão,
inclusive esse cheiro horrível e incómodo anti-ácaro.
Às
vezes o prédio, já velho, se estica, se contorce, dá uma alongada nos ossos. Uma
estalada aqui, um gemido lá. Gememos talvez para lembrar aos outros (ou a nós
mesmos) que ainda estamos vivos. Seja isso pro bem ou pro mal.
O
fato é que na falta do que escrever, vamos soltando as palavras na espera de
que algo aconteça. Na espera de que aquele amontoado de letras acabe por fazer
algum sentido a alguém, por mais que não faça nenhum a nós. Quem sabe?
O
que trazemos ao mundo não mais nos pertence. Somos senhores apenas de nossas
ilusões.
Já
parou pra tentar escrever imediatamente tudo o que lhe vem a cabeça?
Tente esse exercício! Vai se arrepender…
Como
me arrependo agora.
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