terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SARDINHAS

Por Edson Vidigal

Resolvi me encolher aqui na pensão à tardinha. Botei as ceroulas, cobri-me na cama e aqui estou apodrecendo a alma com um pedaço de pão e uma garrafa de água.
           
Almocei três ou quatro sardinhas ensanguentadas que até agora me sobem à boca em alguns soluços num desagradável ruminar.
            
Sei que terei fome, mas não quero ter que me vestir de gente ou encarar o frio para comer. Prefiro morrer de fome quente.
            
Só eu e minhas sardinhas, que insistem em não serem digeridas.
            
Também eu não gostaria de ser digerido, se parar pra pensar. Talvez sim metaforicamente, mas nunca literalmente.
            
Como diria o Assis: aos vencedores, as sardinhas.   

E cá estou eu com elas.

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